Ampliação do CRD e do número agentes de endemias entre medidas anunciadas na primeira reunião do Gabinete com representantes da municipalidade, Ministério Público, Defensoria Pública e Sociedade Civil Organizada
Integrantes do Gabinete de Crise da Dengue e outras Arboviroses, instituído pelo Decreto Municipal nº 36 de 1º de março de 2024, participaram da primeira reunião para avaliação dos indicadores epidemiológicos das doenças e para alinhar as ações de enfrentamento e combate ao vetor. O encontro, conduzido pelo secretário de Saúde, Paulo Hirano, aconteceu nesta quarta-feira (6), no Centro Administrativo José Alves de Azevedo, sede da Prefeitura, mas também pode ser acompanhado pelo público externo através de plataformas digitais. Com padrão de transmissão sustentada da doença, o que levou à decretação de epidemia, o município está na fase amarela, de atenção redobrada.
Na ocasião, foram apresentadas ações emergenciais em resposta ao cenário epidemiológico e assistencial, entre as quais estão ampliação do Centro de Tratamento da Dengue (CRD), cuja matriz funciona anexa ao Hospital Plantadores de Cana (HPC), que receberá a instalação de contêineres para hidratação dos pacientes nos próximos dias, além da criação do CRD 2 no Hospital Geral de Guarus (HGG) e, se necessário, um CRD 3 no Hospital São José (HSJ). Também será realizado processo seletivo para contratação emergencial de agentes de combate às endemias. A contratação reforçará as ações múltiplas que serão realizadas em parceria com órgãos da municipalidade, Ministério Público, Defensoria Pública e Sociedade Civil Organizada.
O Secretário de Saúde, Paulo Hirano, enfatizou a importância de combater a epidemia que está afetando o município, ressaltando o papel crucial da prevenção, especialmente no combate ao mosquito Aedes aegypti. Ele também menciona a descentralização dos serviços de saúde para lidar com o aumento de casos no município.
“É importante que as pessoas entendam a gravidade da situação e as medidas propostas para lidar com ela. Foi necessária a descentralização assistencial para as Unidades Básicas de Saúde e UPHs 24 horas, quando houver necessidade de hidratação venosa para evitar complicações graves da doença. Felizmente, não houve óbitos registrados até o momento, mas é essencial que ao suspeitar da doença, inicie logo a hidratação”, orientou o secretário.
Ao subsecretário de Vigilância em Saúde, Charbell Kury, coube a exposição do cenário epidemiológico do município que contabilizou, até o dia 5 deste mês, 2.358 notificações para dengue, entre confirmação laboratorial e clínico epidemiológico, além de 79 notificações para chikungunya. A previsão é de que ocorra uma explosão de casos entre o final de março, abril, maio e junho.
“A gente sabe que evitar a dengue é impossível, considerando as questões climáticas e também da urbanização do nosso país. Mas, o que nós podemos fazer é evitar mortes. Então, estamos trabalhando desde o ano passado para capacitar os médicos para que eles possam reduzir a letalidade, que é a chance que o paciente tem de morrer. O próprio Centro de Referência da Dengue está se preparando para ser aumentado, inclusive, como é um hospital conveniado, ele tem toda a sua estrutura própria para poder aumentar. Além disso, já está mapeado e pronto um local dentro do Hospital Geral de Guarus para ser um segundo polo de hidratação, da mesma forma como fizemos na epidemia em 2013/2014, com o objetivo de darmos um maior conforto ao paciente. E depois, se a gente perceber, à medida que o número de casos vá crescendo, a gente vai para o terceiro polo que já está mapeado, que será no Hospital São José”, explicou Charbell Kury
Outro ponto debatido na reunião foi o número de imóveis fechados no município que, de acordo com o último relatório, é de 70 mil. E, para franquear a entrada dos agentes de combate às endemias, sem o egresso forçado permitido por lei em casos de epidemia, o Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) e todos os corretores de imóveis foram convocados para a reunião do próximo dia 20, às 9h. Também estão sendo estudadas ações pontuais para combater o descarte irregular do lixo, um dos grandes problemas enfrentados pela Subsecretaria de Limpeza Pública, Secretaria de Ordem Pública e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).
“Nós só vamos vencer essa guerra com união. O trabalho está sendo feito. Temos 370 mil imóveis na cidade que são visitados pelos agentes de endemias, mas não é o suficiente. É por isso que conclamo a cidade para que cada proprietário de imóvel seja um agente porque 80% dos criadouros estão dentro das residências. No caso dos imóveis à venda ou disponíveis para aluguel, o corretor é corresponsável e deve auxiliar nesse trabalho”, disse o diretor do CCZ, Carlos Morales.
A promotora de Tutela Coletiva, Maristela Naurath, reforçou que, “infelizmente, hoje, vivemos uma situação em que as pessoas não estão dando muita importância em fazer a limpeza das suas próprias casas. Além disso, o município conta com muitos imóveis fechados e abandonados e a Prefeitura tem o dever de fiscalizar e apurar quais são esses imóveis, mas cabe ao proprietário fazer a limpeza no interior de suas residências e quintais. Então, tire esse tempo para estar verificando o seu imóvel e, também, a casa do seu vizinho que está fechada, por exemplo. Caso esteja com criadouros de mosquito, informe a ouvidoria da Prefeitura, ao setor de Posturas ou ao Ministério Público, pelo número 127, ou pelo site. É muito importante que esses casos sejam comunicados, pois só conseguiremos um bom resultado se atuarmos em conjunto”, enfatizou a promotora.
Coordenador do Centro de Referência da Dengue, o médico Luiz José de Souza informou que o município de Campos já teve circulando em seu território todos os sorotipos da doença, que vão do 1 ao 4. O médico pontua que até os anos 2000, circulavam no município os sorotipos 1 e o 2. De 2002 a 2007, o sorotipo 3, que, de acordo com ele, foi bem agressivo, com comprometimento do sistema nervoso central e quadros de hepatites. De 2008 a 2009, o 1 retornou. Já de 2010 a 2012, prevaleceu o sorotipo 2. De 2013 a 2014, foi o sorotipo 4, que entrou na cidade pela primeira vez e, em 2015 e 2016, retornou o 1.
“Em 2016, nós enfrentamos as três doenças simultaneamente. Então, tivemos 5.321 casos de zika; 9.296 de dengue e 96 casos de chikungunya. Depois, em 2017 e 2018, foi a chikungunya que dominou. Já o ano de 2019 foi mais brando, com a dengue retornando com o sorotipo 1; em 2023 com o 1 e o 2, este ano. Então, certamente, 60% a 70% da população de Campos está imunizada para o sorotipo 1. E isso é um alívio para nós”, destacou o coordenador do CRD.
Participaram da reunião o subprocurador geral do Município, Gabriel Rangel; a defensora Pública, Aline Barroco; o diretor de Vigilância em Saúde, Rodrigo Carneiro; a diretora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), Andreya Moreira; o vereador Junho Virgílio; o presidente da Fundação Municipal de Saúde, Arthur Borges; a secretária de Limpeza Pública, Simone Muniz; o subcoordenador do Programa Municipal de Controle de Vetores (PMCV), Sílvio Pinheiro; o diretor do UBV, Eufrásio Lisboa; o secretário de Ordem Pública, Jackson Sousa.
REFORÇO NA EDUCAÇÃO EM SÁUDE
Paralela à reunião do Gabinete de Crise, a Secretaria de Governo (Segov) conduziu, através do responsável pela pasta, Ângelo Rafael, uma reunião com os Agentes de Desenvolvimento Local (ADL), que foram capacitados para atuar como multiplicadores de informação e combater o mosquito transmissor da dengue e outras arboviroses.